quinta-feira, 14 de julho de 2011

Crise

Sento na calçada. Não escolhi um lugar especial, não vejo nobreza alguma neste canto da rua. Ao mesmo tempo em que os transuentes passam apressados, uma simbiose parece acontecer sem niguém notar: como um lova-deus se camufla em meio as folhas para não ser percebido por predadores me imbrico nos muros frios e acizentados da suja rua. Cimento e tristeza agora fazem parte da mesma liga. Metade da tarde e sentado, fito a não longíqua banca de revistas com seus ostentosos jornais que lhe circundam a cintura como um cinto cheio de furos. Notícias de mais uma crise, uma dentre várias tantas. Tento disfarçar que não estou assutado mas é inútil. A sobrancelha cinzida me denuncia. Olho o antigo cineminha com seu velho letreiro decadente e tento me reconforta em vão. Tudo que conheço parece desaparecer ou ser falso: os amigos, as instituições,as esperanças. Percebo que os jornais enfilerados perfeitamente nos expositores não param de me encaram. Esforçam-se em não me fazer esquecer que estamos à beira de uma crise. O velho cineminha diante da insistência dos jornais em fila indiana se retrai mais ainda ao rememorar o duro ano de vinte e nove, ano no qual em pleno vigor viu muitos se encolherem diante da tela numa tentativa de fugir da realidade caótica e também alguns pularem do velho edíficio a sua frente. Divago sobre a minha recém conquistada estabilidade prestes a desaparecer. Um velho senhor em ato de valentia que invejo pega um desses jornais e se dispõe a ler e uma vontade de aproximar-me dele começa a dominar. Animo-me levemente diante da possibilidade estar enganado e sinto meus músculos se retorcerem. Leve engano, já que renunciei a qualquer perspectiva de triunfo. Conformação e entediamento, o mundo preste a desmoronar e eu já entregue ao caos da renúncia. O cheiro de quebra está cada vez mais intríseco a cada destas lojas e fazem cada uma de suas vitrines perderem a graça. A igreja do outro lado não move mais fiéis nem gera mais conforto. Na calçada sou confundido com mais um, não sei se um pedinte ou um marginal. Meu cheiro agora também é o do fracasso. Coragem no fim e genocídio de minha capacidade argumentativa. A crise paira no ar e me pressiona contra o muro cheio de cartazer atras de mim. Os jornais agoram começam a voar devido a forte ventania que começou. A poeira afete meus olhos e me fazem lacrimejar, relembrando uma capacidade perdida a um tempo. Sentado em uma calçada, continuo coagido no pânico que me aflige as incerteza dos dias terríveis que virão

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