sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pela janela do quarto

Pela única janela do quarto, ele olha cautelosamente o movimento insólito da rua. Ao mesmo tempo tenta organizar em sua cabeça um possível texto. Pretende com as breves linhas que já começam a tomar forma em alguma parte do seu cérebro, mostrar que possui algum talento, alguma graça. Já não pensava mais em sair do anonimato e lhe conformava a idéia de ser só mais um entre milhares. Um mero desconhecido que mesmo ciente de sua condição estática, suspirava em alguns momentos por algum reconhecimento. Mesmo conformado, algo em seu semblante lhe denunciava, lhe entregava. O cansaço da constante caminhada com a legião dos incompreendidos que lhe estirpava o peito deixando-o com um constante pigarro que em nehuma hipótese considerava ser devido aos dois marços de cigarros que consumia a cada dia, religiosamente desde adolescência. E no correr de sua monótona observação da rua, que se dispunha ordinariamente aos seus olhos, perdeu-se brevemente em um vago pensamento: e se jogasse cruamente sua insatisfação com a incompreensão naquelas frases que começava a imaginar dispostas em um papel qualquer e enviasse a um jornal diário da cidade? não poderia ser um jornal qualquer mas, o de maior circulação, com maior número de leitores. Gostou da idéia mesmo pensando se ainda se publicam cartas em jornais ou se as pessoas ainda leêm jornais. Cogitou em desistir. Talvez escrever não fosse para ele pois nunca dominara tal arte apesar de treinar sempre, com produções que talvez só despertariam pena aos leitores. Pena não somente pelo seu pobre português mas sobretudo pela sua pobreza em desperta interesse alheio. Era sem graça e sempre soube disso. Até mesmo suas fotos enquanto bebê eram sem graça e não despertavam a comum reação nas pessoas quando veêm a foto de um bebê qualquer. Terminou por decidir em não escrever pois tinha certeza que ninguém iria ler e terminaria tendo seus anseios em volta de um peixe qualquer (e novamente voltou a se questionar, pensando se peixes ainda eram embrulhados em jornais). Voltou-se para a rua e o desejo de jogar aquela angustia trazida pela incompreensão ainda lhe apertava o peito, e novamente voltou a descarta quel tal aperto poderia ser decorrente ao cigarro, quando num movimento em espiral, igual aquelas escadas dos préidos antigos que pareciam um caracol, tenrou refazer o caminho que o levou a naquele momento se sentir insatisfeito e incompreendido. O percuso feito rapidamente lhe deixou tonto e não o levou a lugar nenhum e em compensação a tontura só aumentava. Tentou-se apoiar na cabiceira da cama quando sentiu o braço escorregar. Incrivelmente sentiu-se puxado para frente. Não teve conta de que caíra, não houve tempo. E no dia seguinte, conforme tinha brevemente pensado, sua insatisfação aparecia nos jornais e, logo em primeira página e coincidentemente pontilhada pelo sentimento que lhe perseguiu a vida inteira: acidente ou suícidio? dizia em letras garrafais a manchete. A resposta talvez esteja nas cincos linhas rascunhadas e agora amassadas que se juntam ao montante de lixo dentro do apartamenteo vazio que provalvelmente demorará a ser limpo.

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